quarta-feira, 12 de setembro de 2007

A "PINTURA" DO CRISTO-REI

Aproveitando enquanto a verve está a dar, vou hoje relembrar mais um episódio dos muitos que poderão contribuir para a elaboração do nosso livro de memórias.
Trata-se da muito bem intencionada tentativa de pintar o muro que rodeia o monumento ao Cristo-Rei.
Por altura das nossas férias grandes, nem sempre havia muito em que nos entretermos, se excluirmos os normais acampamentos, os campeonatos de ping-pong e de matraquilhos e os lanches na Roda, de que já falei. Os três meses de férias chegavam e sobejavam para isto e para muito mais, e então havia que dar corda à imaginação e púnhamo-nos a inventar e a tentar encontrar algo mais para nos mantermos entretidos, para não corrermos o risco de cairmos no marasmo e na pasmaceira.
Neste caso se bem o idealizámos melhor o pusemos (tentámos!) em prática.
Já há algum tempo que se comentava entre nós que era uma pena que um monumento tão bonito e emblemático como o nosso Cristo-Rei, nunca tivesse sido concluído, mormente no que dizia respeito à pintura do muro em forma de coroa que o circundava, assim como o próprio pedestal em que aquele assentava.
E foi esta a deixa para tentarmos uma ocupação extra.
Havia que pintar o Cristo-Rei!
Quanto à tinta não deveria haver problemas, pois bastaria fazer uma angariação na cidade junto dos comerciantes do ramo e de certeza que esse problema seria ultrapassado.
Faltava conseguir a autorização da entidade responsável pelo monumento. Soubemos que a pessoa a contactar era o Sr. Eng. Sardinha, conceituado técnico da nossa urbe, ecom muitos projectos e obras por ele assinados. Era conhecido por não poupar nos materiais, de tal modo que obra sua não “arriava” de certeza. É sua a frase: “gema o dono mas não gema a obra!”
E lá fomos nós, uma delegação de 3 ou 4 escuteiros, tentar chegar à fala com o referido senhor. Encontrámo-lo onde era seu costume parar, na Cervejaria Tirol, que era praticamente o seu “local de trabalho”. Após nos termos apresentado e identificado, explanámos as nossas intenções e pedimos que nos fosse dada autorização para avançarmos com as “obras”. O Senhor, impávido e sereno sentado na sua cadeira, enquanto nós permanecíamos em pé, olhou para nós de alto a baixo e disse: “Vão mas é pintar a vossa sede!”. Assim mesmo, com direito a negrito e tudo!
Ora está bem de ver a cachola com que todos ficámos e o ar de parvos com que dali saímos, com o rabo entre as pernas.
E foi assim gorada a hipótese de prestarmos um serviço à comunidade, ao mesmo tempo que preencheríamos mais um pouco do nosso tempo. Como isto não foi possível, a solução que encontrámos foi passar as semanas seguintes a dizer “cobras e lagartos” do Eng. Sardinha, que ficou para sempre como a espinha (de sardinha) enterrada nas nossas gargantas.
Ironicamente, no presente, olhando para fotos actuais do Cristo-Rei, verifico que este se encontra pintado! Será que depois de nós, alguém conseguiu “dar a volta” ao Eng. Sardinha? Ou será que, após a Independência algum escuteiro que por lá tenha ficado achou por bem que o dito engenheiro não se haveria de ficar a rir e resolveu meter mãos à obra?
Oh! Peres, será que não tens nada a ver com isso?

1 comentário:

Jose Guerra disse...

Mais um episódio que não é do meu tempo: é bom saber.
Mas lembrei-me da desconfiança que criou, num comerciante da Humpata, o facto de a minha Patrulha se ter oferecido para ajudar a carregar a carrinha com caixas de fruta.
Era a boa acção que tinhamos de praticar à população, no âmbito de um jogo inserido nas actividades de um acampamento na Quinta Fénikov.
Suspeito que o homem perdeu a contagem das caixas, preocupado com os movimentos dos putos fardados...
Pois é meu amigo, já naquele tempo não havia "almoços grátis", não é?
Mas...Escutismo,é outra coisa!!!